terça-feira, 28 de setembro de 2010
A vida e obra de Padre António Vieira
António Vieira, nascido a 6 de Fevereiro de 1608, em Lisboa, foi um religioso, escritor e orador português da Companhia de Jesus. Chegou à Bahia, no Brasil, com seis anos de idade. Estudou no Colégio dos Jesuítas em Salvador, onde se veio a tornar brilhante aluno. Ingressou na Companhia de Jesus como noviço em Maio de 1623.
Na invasão Holandesa de Salvador, refugiou-se no interior da capitania, onde se iniciou a sua vocação missionária. Um ano depois de isso, tomou os votos de castidade, pobreza e obediência, abandonando o noviciado. Prosseguiu os seus estudos em Teologia, Lógica, Metafísica e Matemática, e obteu um mestrado em Artes.
Tornou-se sacerdote em 1634, e nesta época já era conhecido pelos seus primeiros sermões, tendo fama de notável pregador.
Em 1641 regressou a Lisboa, e iniciou uma carreira diplomática. Com a sua vivacidade de espírito e como orador, conquistou a amizade e confiança de João IV de Portugal, sendo por ele nomeado pregador régio. Durante esta época, tentou obter para a Coroa a ajuda financeira dos cristãos-novos, entrando assim em conflito com o Santo Ofício, mas viu fundada a Companhia Geral do Comércio do Brasil.
Voltou ao Brasil em 1652, pois em Portugal havia quem não gostasse das suas pregações em favor dos judeus. Foi missionário no Maranhão e no Grão Pará, e sempre defendeu a liberdade dos índios.
Em 1654 partiu para Lisboa, junto com dois companheiros, a bordo de um navio da Companhia de Comércio, carregado de açúcar.
A sua missão era defender junto ao monarca os direitos dos indígenas escravizados, contra a cobiça dos colonos portugueses.
Passados dois meses de viagem, a Oeste dos Açores, abateu-se sobre a embarcação uma violenta tempestade, arrancando a vela do navio. Com isto, na iminência do naufrágio, padre António Vieira concedeu a todos absolvição geral, bradando aos ventos:
"Anjos da guarda das almas do Maranhão, lembrai-vos que vai este navio buscar o remédio e salvação delas. Fazei agora o que podeis e deveis, não a nós, que o não merecemos, mas àquelas tão desamparadas almas, que tendes a vosso cargo; olhai que aqui se perdem connosco."
Após isto, obteve de todos a bordo um voto a Nossa Senhora de que lhe rezariam um terço todos os dias, caso escapassem à morte iminente. Passado algum tempo, os mastros do navio partiram-se, mas com o peso da carga estivada até às escotilhas, o navio voltou à posição normal, permanecendo à deriva.
Foram recolhidos por um corsário neerlandês que encontraram enquanto estavam à deriva, mas também foram pilhados, e o seu navio afundou. Nove dias mais tarde, foram desembarcados na Graciosa, nos Açores, onde padre António Vieira, com o auxílio dos religiosos da Companhia de Jesus, procurou providenciar roupas, calçado e dinheiro à tripulação durante os dois meses que permaneceram na ilha. Enquanto estava na ilha, pediu a Jerónimo Nunes da Costa para que este fosse a Amesterdão resgatar os papéis e livros que lhe haviam sido tomados pelos corsários.
Viajou com o seu grupo à Ilha Terceira, onde obteve o aprestamento de uma embarcação para que os seus companheiros pudessem seguir para Lisboa.
Instalou-se no Colégio dos Jesuítas em Angra, e permaneceu aqui mais algum tempo.
Partiu para Lisboa em 24 de Outubro de 1654, chegando ao seu destino em Novembro de 1654.
Entretanto, com a morte de D. João IV, António Vieira tornou-se confessor da Regente, D. Luísa de Gusmão, mas após a ascensão ao trono de D. Afonso VI, não encontrou apoio.
Abraçou a profecia sebastianina e entrou em conflito com a Inquisição, tendo sido acusado de heresia com base numa carta de 1659 ao bispo do Japão, na qual expunha a sua teoria do Quinto Império. Com isto, foi expulso de Lisboa, desterrado e encarcerado no Porto e seguidamente em Coimbra.
Em 1667 foi condenado a internamento e proibido de pregar, mas, seis meses depois, a sua pena foi anulada.
Recuperou o valimento com a regência de D. Pedro, futuro D. Pedro II de Portugal.
Seguiu para Roma em 1669.
Encontrou o Papa às portas da morte, mas deslumbrou a Cúria com os seus discursos e sermões.
Renovou a luta contra a Inquisição, pois considerava a sua actuação nefasta para o equilíbrio da sociedade portuguesa. Obteve um breve pontifício que o tornava apenas dependente do Tribunal Romano.
Em 1675 voltou para Lisboa, por ordem de D. Pedro, mas afastou-se dos negócios públicos
Decidiu voltar para o Brasil em 1681, tendo permanecido aí até ao resto da sua vida, morrendo a 18 de Julho de 1697, com 89 anos.
Entre 1675 e 1681, Vieira conseguiu parar pela primeira vez durante sete anos a actividade do Santo Ofício em Portugal.
Padre António Vieira deixou obras complexas que exprimem as suas opiniões políticas, sendo não própriamente um escritor mas sim um orador. Redigiu o Clavis Prophetarum, livro de profecias que nunca concluiu. Entre os seus inúmeros sermões, alguns dos mais célebres são: o "Sermão da Quinta Dominga da Quaresma", o "Sermão da Sexagésima", o "Sermão pelo Bom Sucesso das Armas de Portugal contra as de Holanda", o "Sermão do Bom Ladrão" e o "Sermão de Santo António aos Peixes".
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